1.6.06

A juvenilização da cultura americana: Drive-In's & Rock n' Roll

Existe por parte de algumas franjas da música popular, designadamente de alguns subgéneros do Rock n’ Roll de tradição blues, e dos seus apreciadores, uma fascinação pela iconografia típica do cinema que classicamente está associado às Grindhouses – nomeadamente de horror e exploitation – bem como uma recorrente citação de tais formatos cinematográficos.


Nos anos 50 a 60, os EUA eram um país de adolescentes, legado da 2ª Grande Guerra e da geração dos “Baby Boomers”. O número de jovens da classe etária dos 12 aos 18 anos era tão significativo que levou os especialistas a definir o conceito até então ignorado de Teenager, bem como a sociedade em geral a modificar-se no sentido de se adaptar a esta nova realidade demográfica.
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A Bomba Atómica, comummente considerada a realidade mais importante do séc. 20, tinha lançado sementes de mudança em todas as dimensões do quotidiano social americano. Do desenvolvimento científico que marginou a construção desta arma nasceu toda uma nova gama de materiais e soluções de engenharia que foram rapidamente transformados em novos objectos que, por sua vez, vieram catalizar de forma acelerante as necessidades de consumo dos cidadãos. Por outro lado, a detonação da mesma e a consciência colectiva do seu poder de destruição originaram um sentimento global de fragilidade da condição humana que favoreceu a implantação de uma mentalidade individualista e, acima de tudo, imediatista.
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Os espíritos mais livres do negócio da música e do cinema desde cedo souberam aproveitar todas estas alterações sociais, tendo posteriormente sido seguidos pelas poderosas instituições industriais das mesmas áreas.
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Sendo estes dois tipos de espectáculos muito queridos do novo e numeroso mercado adolescente, a oferta “deformou-se” de modo a adaptar-se a este novo público.
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Assim, fruto da adaptação dos operadores destes mercados às necessidades de consumo dos adolescentes, foi por esta altura que se tornaram populares dois fenómenos da cultura do séc. XX: o Rock n’ Roll e o Drive-In (nos Drive- In’s eram projectados os mesmos tipos de filmes que noutros locais e/ou mais tarde eram apresentados nas Grindhouses).
Ambas as artes se alimentaram reciprocamente, quer através da produção de filmes relacionados com temáticas Rock n’ Roll (filmes de gangs juvenis, de Hot-Rods, etc), quer através da promoção de estrelas Rock através do uso do grande ecrã (é o caso do Elvis, por exemplo).

Hoje em dia, os pais do Rock n’ Roll morreram e os Drive-Ins deram lugar aos multiplexes, mas restam ainda algumas bandas, descendentes daquele género musical, cuja iconografia é a do revivalismo dos anos 50 e 60 e cujo imaginário é o dos filmes clássicos de série-B (julgo que o melhor exemplo são os fabulosos The Cramps, que fazem um contínuo permanente discurso artístico de citação dos clássicos exploitation, seja no título dos álbuns, nos nomes das músicas, nas temáticas das letras ou nos vídeo-clips).

Por outro lado, ainda há realizadores que nos nossos dias, com enorme mestria, usam o Rock n’ Roll para colorir os seus filmes de tradição exploitation (é o caso do Tarantino – porque será que é sempre tão fácil dar este gajo como exemplo? – com a música do Dick Dale no Pulp Fiction ou do Alex de La Iglesia com a música dos Southern Culture on the Skids no Perdita Durango).