6.6.07
28.4.07
Planet Terror + Death Proof = GRINDHOUSE
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"Diz que" depois dos resultados de bilheteira nos EUA se mostrarem aquém do esperado, a malta da produção (ou da distribuição, não sei...) terá decidido que deveriam ser separadas ambas as features que compunham este double bill, reeditadas como extended versions das "originais" e, sob essa forma simples, serem apresentadas ao público nos países onde futuramente estrearão, Portugal inclusive.
19.2.07
18.1.07
Quote:
- Francis Ford Coppola
30.6.06
O Código de Produção, a 1ª Emenda e os criadores de Exploitation (1ªparte)
Tudo isso era basicamente verdade.
Mas essa era a época da proibição, sendo comum a possibilidade de controlar legalmente as questões morais. Por forma a escapar à eventualidade cada vez mais provável de ver os seus conteúdos ser objecto de censura à luz da lei, Hollywood faz a fuga para a frente e, por acordo dos grandes estúdios, começa a fazer auto-regulação da sua própria produção. Tal levou à criação do Código de Produção de 1934 (também conhecido como Código Hayes) pela Motion Pictures Producers and Distributors Association (actualmente chamada Motion Pictures Association of América), levando qualquer filme a ser lançado por um estúdio membro a passar pela fiscalização à luz de uma lista de merceeiro de bem feitoria moral.
O objectivo do Código de Produção era então o de garantir que o filme em causa não “baixasse/diminuísse os padrões morais” de quem ao mesmo assistia. Com tal meta presente, ficavam proibidas: profanidades, actos sexuais, paixões ostensivas, infidelidades matrimoniais, sugestões de fornicação, determinados actos criminosos, violência, etc.. Foi esta a era em que no cinema todos os quartos dos casais mostravam camas gémeas separadas e em que os actores e actrizes tinham sempre que manter pelo menos um dos pés no chão. Quer dizer, pelo menos era assim para os principais e maiores estúdios de cinema (que eram quase todos, não existindo grandes possibilidades de sobrevivência de estúdios independentes).
Ainda hoje seria assim, eventualmente, caso os grandes estúdios mantivessem o poder que à altura possuíam. Mas a realidade é que o perderam…
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Em meados dos anos 40, estando o chamado Studio System no auge, os grandes estúdios controlavam praticamente todos os aspectos da indústria americana do cinema. Para além das realizarem as habituais produções de elevado orçamento, realizavam também os filmes baratos para preencher as segundas partes das "apresentações duplas" – chamados “filmes B” ou filmes “série B”. Estes filmes eram projectados em salas da propriedade dos estúdios, pela América fora. As salas que não eram propriedade dos estúdios eram forçadas a assinar contratos de exclusividade, sendo essa a única forma de garantir que lhes eram disponibilizados grandes filmes, mais lucrativos, por esses estúdios.
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Até que, em 1949, o Supremo Tribunal americano decretou que os grandes estúdios se encontravam numa situação de monopólio, ao serem proprietários e controlarem ambas a produção e a exibição dos filmes. Esta decisão forçou os estúdios a desinvestir na propriedade e controlo das salas. Ao deixarem de poder ditar os filmes escolhidos para exibição, os estúdios alteraram a sua estratégia – uma vez em concorrência directa pelas exibições dos mesmos, os estúdios aumentaram a produção de filmes de elevado orçamento, desistindo dos “série B”.
Tal abandono abriu a porta ao criador independente. Uma das maiores vantagens de ser independente dos grandes estúdios era não estar limitado pelas premissas lavradas no Código de Produção de 1934. Eram dessa forma livres para fazer os filmes acerca do que quer que lhes apetecesse… ou que se atrevessem. Mas mesmo assim havia um risco envolvido, pois teriam ainda que ter em consideração a receptibilidade por parte do público e leis locais ou regionais de obscenidade a contornar.
Em 1952 também isso mudou. Mais uma vez, o Supremo Tribunal americano reconheceu legalmente o cinema como uma extensão da “liberdade de expressão”, protegendo-o de qualquer tipo de responsabilidade criminal ao abrigo da 1ª Emenda.
Nesse instante, as represas foram abertas e os criadores de filmes exploitation inundaram a América do cinema.
22.6.06
HERSCHELL GORDON LEWIS – o “Padrinho do Gore”
No entanto, algumas pessoas conhecem-no melhor pelo seu papel de guru e pela sua ilustre carreira por entre os titãs do drive-in e do grindhouse.
Tendo-se limitado ao cargo de produtor no seu primeiro filme (The Prime Time – 1960), assume praticamente em todos os filmes em que posteriormente interveio o papel de realizador.
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Em 1961, com Living Venus (obra baseada na vida de Hugh Hefner e nos modestos inícios da Playboy) inicia a sua colaboração com o produtor David F. Friedman, colaboração essa que viria a tornar-se mítica.
Nos restantes primeiros anos dessa mesma década de 60, ambos concretizaram várias longas-metragens de características “sexualmente explorativas” (sexploitation), desde logo apresentando o cunho e a abordagem com que para sempre se relacionariam com o cinema, critério fundamental das suas obras: os filmes teriam como único objectivo o lucro, de preferência avultado.
Quando o mercado da nudez começa a perder vigor, Lewis e Friedman têm um papel preponderante ao serem os grandes pioneiros a penetrar o território inexplorado da violência explícita graficamente, do sangue a rodos, enfim, do gore, com o seminal Blood Feast (1963).
Este filme alteraria para sempre os géneros, designadamente o de horror, revelando-se um imediato e estrondoso sucesso de bilheteiras que, em alguns drive-ins, chegou a permanecer em projecção durante mais de 20 anos, desbravando o carniceiro trilho que futuros filmes como Texas Chainsaw Massacre, Hallowen e Friday the 13th viriam a percorrer.
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Two Thousand Maniacs! (1964) e Color Me Blood Red (1965) foram as carnificinas que se seguiram, bem como os últimos filmes em que a dupla Lewis/Friedman colaborou entre si. Enquanto Friedman regressou à produção de sexploitation, Lewis seguiu o seu caminho sanguinário continuando a produzir filmes gore até 1972, ano em que lançou The Gore-Gore Girls.
E como numa personagem deste calibre não poderiam faltar os paradoxos, realizou ainda dois filmes para crianças (Jimmy The Boy Wonder – 1966 e The Magic Land of Mother Goose – 1967).
Para finalizar deixo algumas citações de H. G. Lewis, retiradas de entrevistas, que no seu pragmatismo acabam por dizer mais acerca do homem do que muito que se poderia ainda escrever:
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“- Não considero que ter um filme classificado como bizarro seja um insulto. Se um crítico me oferece tal comentário eu agradeço-lhe por ele.”
“- Acho que o fascínio pelo sangue é algo profundamente intrínseco à mente humana e uma das vantagens desses filmes [de violência explícita/gore] é proporcionarem uma descarga passiva.”
“- Muitos consideram o “Laranja Mecânica” um filme pomposo e obscuro; eu não… e adoro a música de Beethoven.”
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“- Suspeito de todos os realizadores que se vêm a si próprios como artistas e autores.”
“- Vejo o cinema como um negócio e tenho pena de qualquer um que o olhe como uma forma de arte, gastando dinheiro baseado nessa filosofia imatura.”
“- A arte está nos olhos de quem a vê.”
…e um episódio:
Numa conferência sobre cinema, das muitas em que hoje ainda os veteranos Friedman e Lewis participam, um membro do público, na parte em que é permitido à audiência interpelar os oradores, questionou este último sobre se ele “se via a si próprio como um autor”. A resposta de Lewis foi lacónica:
8.6.06
BLOOD FEAST - E a América pariu o Gore…
Mas convém não sermos enganados… O filme é tecnicamente muito mau.
Não tem enredo nem estória, apenas uma série de acontecimentos que tentam estabelecer uma linha narrativa tão complexa quanto uma conta de somar e cujo principal objectivo é, mais do que justificar as cenas de derramamento de sangue, preencher o espaço entre elas.
O derramamento de sangue, esse, é que é a verdadeira essência e interesse do filme. Captado com as cores (essas sim magníficas) que se tornariam imagem de marca do autor/realizador, o filme apresenta uma sequência de cenas de violência graficamente explícita, algo que nunca antes havia sido visto no cinema e que incluía, entre outros sadismos, membros a serem amputados, cérebros e línguas a serem arrancados, etc, tudo bem regado com muito, muito sangue, bem encarnado.
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Por tal, este filme tornou-se um marco incontornável na história do cinema, tendo representado para a exibição da violência aquilo que mais tarde o Garganta Funda representou para o sexo, implicando o seu banimento na RFA e no Reino Unido (neste até 2001) e a actual classificação para maiores de 18 anos que lhe está associada num grande número de países.
A partir deste ponto nunca mais o cinema foi o mesmo: as agressões e o consequente sangue começaram a ver-se mais, principalmente em géneros como o de horror/terror, que até aí eram modestos no seu uso, preferindo a sugestão à exibição. Hoje em dia, a violência gráfica e o sangue fazem parte integrante de um vasto tipo de filmes, designadamente os blockbusters de acção.
E tirando isso?
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Tirando isso não resta grande coisa… Foi filmado em 9 (nove) dias e os actores são todos eles carentes do mínimo de credibilidade exigível e de quaisquer dotes interpretativos. Um deles, Scott Hall que faz o papel do polícia William Kerwin, era apresentador de circo e foi convencido pelo produtor David Friedman a aceitar esse papel na falta do actor previamente escolhido, poucos dias antes do início da rodagem. Verificando-se incapaz de interpretar e decorar deixas passa o filme a ler da palma da mão e a gritar bem alto (conforme foi instruído pelo produtor, que lhe terá dito que se não sabia representar, que gritasse).
Conclusão:
Este filme poderia ser, atento o conjunto das suas características, uma homenagem/paródia sanguinária ao trabalho do Ed. Wood Jr.… mas não é…
É sim um ligeiro e despretensioso pedaço de história de cinema, que proporciona quer ao apreciador, quer ao curioso interessado, um pouco mais de uma hora de diversão em que a ausência de qualidade geral é directamente proporcional à grandeza da relevância histórica.
1.6.06
A juvenilização da cultura americana: Drive-In's & Rock n' Roll
Nos anos 50 a 60, os EUA eram um país de adolescentes, legado da 2ª Grande Guerra e da geração dos “Baby Boomers”. O número de jovens da classe etária dos 12 aos 18 anos era tão significativo que levou os especialistas a definir o conceito até então ignorado de Teenager, bem como a sociedade em geral a modificar-se no sentido de se adaptar a esta nova realidade demográfica.
A Bomba Atómica, comummente considerada a realidade mais importante do séc. 20, tinha lançado sementes de mudança em todas as dimensões do quotidiano social americano. Do desenvolvimento científico que marginou a construção desta arma nasceu toda uma nova gama de materiais e soluções de engenharia que foram rapidamente transformados em novos objectos que, por sua vez, vieram catalizar de forma acelerante as necessidades de consumo dos cidadãos. Por outro lado, a detonação da mesma e a consciência colectiva do seu poder de destruição originaram um sentimento global de fragilidade da condição humana que favoreceu a implantação de uma mentalidade individualista e, acima de tudo, imediatista.
Por outro lado, ainda há realizadores que nos nossos dias, com enorme mestria, usam o Rock n’ Roll para colorir os seus filmes de tradição exploitation (é o caso do Tarantino – porque será que é sempre tão fácil dar este gajo como exemplo? – com a música do Dick Dale no Pulp Fiction ou do Alex de La Iglesia com a música dos Southern Culture on the Skids no Perdita Durango).
25.5.06
For Your Height Only - 1979
Algures nas Filipinas o Dr. Van Kohler, inventor da N-Bomb, a mais destrutiva arma jamais descoberta, é raptado pelos gangs liderados pelo Cobra e pelo Mr Kaiser, a mando do génio do mal e chefe supremo das organizações criminosas locais, Mr Giant.
Para o resgatar, qual outro senão o mais altamente treinado e respeitado agente secreto Filipino, Agent 00, especialista em artes marciais e galã irresistível, que, por um mero acaso, mede cerca de um metro de altura (é isso mesmo, 1 metro de altura = 3 ½ ft).
Este filme com origem e elenco das ilhas onde decorre a acção, protagonizado por Weng Weng, produzido por Liliw Productions e realizado por Eddie Nicart em 1979, foi e será sempre um grande mistério para mim...
Pese embora a nula qualidade dos actores, a ausência de cenários, a terrível dobragem para inglês, a repetitiva banda sonora, a por demais confusa e não poucas vezes inconsequente intriga, no fundo a deplorável qualidade geral do filme, eis uma obra que me intrigou e ainda hoje intriga como poucos filmes foram capazes de o fazer.
Isto porque tudo à partida parece indicar que nos deparamos com uma sátira desbragada aos filmes 007, no entanto, a candura e dedicação com que o protagonista (e o restante elenco, em geral) se dedicam à obra deixaram-me num limbo de entendimento, em que por mais que me questionasse, nunca consegui perceber quais a reais intenções por detrás desta singular criação... será que há algum propósito sério por detrás dela ?? Será que se pretendia fazer passar alguma mensagem ??...
...mas sempre terei que admitir que quando o herói de um filme de espionagem e acção é um minúsculo anão com cara de bebé e voz de papagaio, a possibilidade de tais intenções serem sérias ou de haver uma mensagem subjacente encontra-se irremediavelmente comprometida.
Ao filme!
O ritmo é excelente, sempre com novas e inesperadas situações e desenlaces, que muitas vezes nos deixam perdidos numa narrativa cheia de becos sem saída, sem continuidade lógica, mas não importa, porque não é pela qualidade do argumento que se decide ver este filme. Fica um bocadito aborrecido lá para o meio, a expensas da repetição de confrontos sempre idênticos com membros dos gangs, mas depois recupera o carácter surpresa e o passo acelerado em direcção ao confronto final entre o herói e o líder malvado, que é – garanto - um dos mais bizarros da história do cinema. A não perder: nunca viram nada assim e nunca mais o irão ver.
A aplicação da fórmula a la 007 é bastante boa, considerando todas as condicionantes já descritas. Há arremessos de galã por parte do herói (que chega a vias de facto, umas vezes mais que outras, com pelo menos três damas), muitos stunts e efeitos “especiais”, muitos gadgets, muitas cenas de confronto físico directo, em que o kung-fu que 00 aplica ao traseiro, ao joelho e à virilha do oponente impera (é verdade, o que não falta é pontapé na virilha), etc. Há uma cena de luta numa discoteca (ou num bar de alterne, fiquei na dúvida) em que o Agente 00 e Irma, a sua parelha feminina, montam um circo de kung-fu fabulosamente coreografado.
Outros momentos altos incluem o protagonista a:
- Descer de uma roda gigante de feira em slide, iludindo os seus opositores;
- Livrar-se dos mesmos usando o seu chapéu de palhinha branco telecomandado;
- Saltar de muros com cerca de 3 vezes a sua altura;
- Saltar de um prédio usando um guarda chuva como pára-quedas;
- Saltar de uma ponte bastante alta para o rio, em baixo;
- Usar um foguete preso às costas como meio de transporte para o covil do seu inimigo;
- Usar o seu golpe mais característico, que consiste em ir a deslizar deitado pelo chão enquanto dispara (e desliza muito... tanto que não é difícil imaginar alguém da equipa a lançá-lo).
Estes stunts são tão mais impressionantes quanto não fui capaz de vislumbrar que quem os executasse fosse outro que não o protagonista (aliás, seria difícil arranjar qualquer duplo que conseguisse substitui-lo credivelmente), o que faz deste pequeno actor um com eles no sitio!
Em resumo: uma hora e meia divertida e intrigante, um filme único no seu género (que sendo único faz com que o seu género se resuma a ele próprio), que garante sem grandes dificuldades uma primeira parte de uma maratona de cinema, ao serão, com os amigos cinéfilos,deixando uma marca indelével no imaginário cinematográfico de todos a que ele assistam, mesmo dos mais cépticos.
17.5.06
GRINDHOUSE _ prefácio_ (adenda: EXPLOITATION [breves considerações sobre...])
Os grandes estúdios, se bem que sem nunca se meterem no campo da pornografia, haviam, por esta altura, integrado e mutado tudo o que tornava o Exploitation distinto e popular, vencendo a batalha contra este tipo de produção independente. A abordagem clássica da violência e do sexo são para sempre abandonadas pelos grandes estúdios, que adoptam eles também as técnicas de marketing deste género, conseguindo, coadjuvados pela nova onda de conservadorismo dos anos 80 e o advento do vídeo, apagar do consumo de massas, juntamente com as Grindhouses, os típicos filmes que lhes "incendiavam" os ecrãs... O que poucos hoje têm noção é que quando vão a um multiplex ver a última produção multimilionária blockbuster de mistério, crime ou horror, estão na realidade a vêr um decalque pouco arrojado e menos imaginativo daqueles que foram os filmes exploitation pioneiros.
Hoje, o exploitation "original" assume a forma de um culto, cada vez mais crescente.
15.5.06
GRINDHOUSE _ prefácio _ [breves considerações sobre...]
Grindhouse é um termo americano que designa uma sala de cinema onde são levadas a cabo projecções de filmes do género Exploitation; é um termo igualmente usado como adjectivo, para descrever o tipo de filmes que passavam nessas salas.
Numa tentativa desesperada de atrair novas audiências, os responsáveis por tais salas optaram por “despejar” programas duplos e triplos de filmes série B, ao preço de um único bilhete. A partir da segunda metade dos anos 60 e durante toda a década de 70, os conteúdo das projecções apresentadas nas Grind-Houses incluíam, com elevada frequência, sexo explícito, violência e outros conteúdos considerados tabu.
Por volta de 1980, o video começou a ameaçar tornar as Grind-Houses obsoletas. No final dessa mesma década, tais salas haviam desaparecido da 42nd Street em Nova York, da Broadway e do Hollywood Boulevard em Los Angeles e da Market Street em São Francisco, para nomear algumas das mais populares zonas de onde tipicamente aquelas se agregavam.